Muitas pessoas fazem uso destes dispositivos mas será que eles resolvem?

Historicamente, as placas oclusais são quase tão antigas quanto a própria odontologia. Dispositivos de madeira já eram usados na idade média como mordedores para que mulheres que estavam em trabalho de parto pudessem fazer força.  Mas foi só início do séc. XX com a fundação da Sociedade Gnatológica Americana pelo Dr. Beverly B. McCollum em 1926, inspirado pelos recém estabelecidos principios gnatológicos,  que as placas oclusais ganharam mais força.

A gnatologia nada mais é que um conjunto de  observações a respeito da relação dos dentes, com as demais estruturas cranio faciais (gnathos, do grego, se refere aos maxilares e logos, significa estudo),  sendo que algumas dessas observações se transformaram em  conceitos tais como o de relação cêntrica, guias de desoclusão, e as definições de má oclusão, dentre outros. Entretanto o símbolo que marca a influência da gnatologia na odontologia  moderna é o articulador,  um tipo de dispositivo usado para tentar reproduzir as relações maxilo-mandibulares.

Articulador semi ajustável

A idéia era reproduzir os movimentos e diagnosticar os problemas de relacionamento entre os dentes superiores e inferiores, bem como permitir a reconstrução do plano oclusal do paciente, normalmente utilizando uma placa oclusal.  Muitos autores começaram então  a desenvolver suas próprias teorias e elaborar diferentes modelos destas placas para tratamentos das disfunções da ATM e bruxismo, resultando na grande variedade que dispomos hoje.

Representação esquemática do articular em relação às bases ósseas

Entretanto, embora a gnatologia tenha sido bastante revolucionária em seu início,  a visão mecanicista do corpo humano tornou essa escola do conhecimento completamente defasada em relação aos conceitos atuais de biomecânica, neurologia e fisiologia.

Atualmente sabemos que o diagnóstico não pode repousar em articuladores sejam eles semi-ajustáveis, charneiras ou totalmente ajustáveis pois, dentre outras coisas,  não reproduzem os movimentos reais humanos. As placas miorrelaxantes, estabilizadoras ou quaisquer outras construídas com principios gnatológicos, utilizando os conceitos clássicos de guias caninas e guia incisiva, desoclusão com proteção mútua, etc, em nada podem ser considerados capazes de restabelecer a função.

Estudos científicos modernos mostram que placas construídas com a mesma técnica, ajustadas da mesma forma, podem produzir efeitos completamente inverso em pacientes diferentes. Outros mostram que a presença ou ausência das guia de desoclusão seja em canino ou em grupo em nada alteram os resultados.

Em contra-partida, o que temos hoje é a capacidade de individualizar o dispositivo oclusal segundo parâmetros biomecânicos  e controlar seus efeitos por meio das leituras das respostas  funcionais de forma mensurativa, bem como através de recursos por imagem, substituindo os princípios gnatológicos pela neurologia e fisiologia contemporânea, de modo a obter uma real correção da disfunção da ATM.

Portanto se você já usou placas e não obteve resultado, é bem provável que, além de ter passado alguma coisa despercebida na fase de diagnóstico, elas tenham sido construídas com princípios gnatológicos e os resultados ficaram comprometidos.

Fique esperto!