DTM e Síndrome da dor Miofascial - Qual a diferença?

Em uma postagem anterior, escrevi sobre o que é a síndrome dolorosa miofascial (SDM) e o porquê, no campo das dores da cabeça e da face, ela só pode ser diagnosticada por exclusão. Entretanto, muita gente recebe um diagnóstico primário de SDM ou mesmo a confunde com uma disfunção muscular da ATM. Mas qual é a diferença?

Primero, para acompanhar o raciocínio que seguirei nesta postagem, sugiro que leiam dois textos: 1)  “DTM muscular vs articular” para entender a confusão de diagnóstico que existe no campo das disfunções de temporomandibulares (DTM) e 2) “Sindrome dolorosa miofascial: o que isso significa e qual a relação com as disfunções da ATM?” para entender o que é a SDM e porque o diagnóstico precisa ser por exclusão quando a região em questão é a face.

Tratamento com botóx para melhora da dor

Tratamento com botóx para melhora da dor

Segundo vamos ao fenômeno que leva um profissional supostamente descartar uma DTM e concluir, precipitadamente, que o paciente tem uma SDM.

Como visto no primeiro texto, na maior parte das vezes a disfunção muscular que o profissional se refere é em realidade a presença da dor muscular sem a presença de sinais articulares (estalos, crepitação) levando o profissional a tal conclusão, mas se você leu o texto mencionado, sabe que a origem patológica do problema pode não estar nos músculos.

Bom, tendo isso em mente, podemos visualizar a seguinte situação: um paciente com dor na face consulta um dentista da área de ATM, que ao examinar, não encontra sinais articulares do problema e “diagnostica” uma DTM muscular.  Em seguida, o paciente passa a ser tratado com o objetivo de aliviar as dores musculares, sendo que os métodos iniciais mais difundidos entre especialistas no Brasil são:

  • medicamentos para dor tais como os relaxantes musculares;
  • placa “miorrelaxante” ou estabilizadora;
  • manobras para tentar inativar os pontos-gatilhos (trigger points) musculares, que costumam ser por manipulação por vezes agregadas à aplicação de um tipo de spray frizante ou gelo, LASER e até agulhamento seco e/ou acumpuntura ;
  • fisioterapia.

Com esse tipo de abordagem, o paciente melhora da dor por algum tempo, mas eventualmente retorna com recidiva do quadro. Quando isso acontece e à depender do profissional que ele volta a procurar, o combate à dor fica mais vigoroso e muitos dentistas entram com:

  • infiltração de anestésicos nos músculos;
  • infiltração de botox nos músculos;
  • mais sessões de LASER;
  • mais fisioterapia.

Novamente, o paciente melhora da dor, mas com o tempo e a diminuição da ação das substâncias infiltradas nos músculos, eventualmente o quadro de dor muscular retorna. Nestas situações, se o profissional julgar que já esgotou os seu arsenal contra a dor, ele se vê numa situação que o leva a descrever o problema como sendo refratário ao tratamento ou ele categoriza o quadro como uma síndrome dolorosa miofascial, uma vez que, do ponto de vista dele, se fosse uma DTM muscular o problema deveria ter sido resolvido. Ou seja, uma exclusão não por diagnóstico, mas por tentativa de tratamento.

Obviamente que a situação descrita acima, não ocorre com todos que forem diagnosticados com uma DTM muscular. Uma grande parte dessas pessoas, tem, de fato, uma significativa melhora do quadro de dor com as técnicas mencionadas e não retornam com o agravo do problema. No entanto, com frequência, no consultório, recebo pacientes que não tiveram essa sorte e já se encontram descrentes e desesperançados  de uma possível melhora do quadro.

Mas por que isso ocorre?

De uma maneira simplista, isso ocorre porque o objetivo do tratamento está sendo o COMBATE À DOR! Parece um contrasenso, não?! Mas se lembrarmos que a dor é a consequência de algo, é esse “algo” que precisa ser tratado. Muitas supostas disfunções musculares possuem uma causa relacionada à patologia da ATM que não foi diagnósticada e portanto não foi corrigida, ou seja, o tratamento tentou desligar o alarme ao invés de apagar o incêndio!

Existe, atualmente, tecnicas para corrigir os problemas biomecânicos e neurofisiológicos relacionados à patologia da ATM de modo que a dor muscular desapareça, não porque está sendo aliviada paliativamente, mas porque o funcionamento muscular correto está sendo restabelecido.

Em 2009, eu publiquei um artigo na Cranio -The Journal of Craniomandibular Pactice com o título Current Diagnosis of TMJ pathology (Diagnóstico atual das patologias da ATM) que é uma revisão do que se sabe de diagnóstico das condições patológicas da ATM, que é o ponto de partida para estabelecer um tratamento corretivo da disfunção e não apenas paliativo da dor. Isso já é realidade. Se por acaso você se identifica com a situação abordada nessa postagem, sugiro a leitura do seguinte texto:  Patologia e disfunção da ATM: o que esperar dos profissionais da área?

Fique esperto!