Está cada vez mais comum a realização desse tipo de cirurgia e, consequentemente,  recebo mais e mais perguntas de internautas sobre esse tipo de procedimento. Portanto, segue algumas informações  que todo mundo precisa saber antes de fazer uma artroplastia.

O que é artroplastia da ATM?

Cirurgia aberta para dar acesso as estruturas articulares

Do grego ( arthron--plastos ) arthron = articulação e plastos = modificação do formato, reconfiguração.  É um procedimento cirúrgico aberto, realizado sob anestesia geral, com a finalidade de modificar alguma estrutura interna ou mesmo re-anatomizar a ATM. É um tipo de cirurgia usada desde o início do século XX  para tentar tratar as anquiloses  de ATM, que ocorrem quando um osso se une ao outro impedindo a articulação de funcionar. Inicialmente os cirurgiões tentaram utilizar gordura,  rebatimento de músculo e até materiais artificiais para impedir os ossos de voltarem a se unir após a cirurgia. Com o passar dos anos, muitas variações técnicas foram aparecendo com as mais diferentes finalidades inclusive a substituição da ATM por próteses. Atualmente, é muito comum de ser oferecida a pacientes que possuem muitas deformidades na articulação, incluindo a anquilose e a pseudo-anquilose.

Tomografia onde se pode observar áreas de anquilose na ATM

Quais são os riscos da  artroplastia da ATM?

Como toda cirurgia, há os riscos de infecção, de problemas cicatriciais, de intercorrências na anestesia, dentre outros, mas que podem ser controlados por um bom manejo das técnicas cirúrgicas e de biossegurança. O risco maior da artroplastia é a IRREVERSIBILIDADE, ou seja, se não resolver o problema na ATM, não há como voltar atrás e deixar tudo como era antes, nem sequer parecido.

Quais são as principais sequelas?

Parestesias (perda de parte da sensibilidade) na face, paralisias faciais, quando ocorre lesão do nervo facial, anquiloses pós-cirúrgicas  e a principal delas que é  não ter o problema da ATM solucionado e continuar com dores, dificuldade para mastigar, para movimentar a mandíbula e disfunção. Há ainda o fato de que muitos pacientes acabam re-operados, aumentando assim assim os custos e o desconforto com reabilitação, fisioterapia, o tempo afastado de atividades profissionais e o agravamento do quadro.

Quais são as indicações reais da artroplastia?

Ainda que sejam resultados limitados, a indicação ainda é em situações de anquiloses e de grandes deformações da ATM. Também é realizada em conjunto com situações de ressecção do côndilo em caso de tumores, onde é realizada uma re-anatomização do segmento ósseo que permanece, para voltar a funcionar como uma articulação. Ainda assim, é um procedimento que o paciente precisará estar sempre em acompanhamento pois a área operada pode voltar a anquilosar. Esse tipo de cirurgia, eventualmente, pode ser bastante útil  em um caso onde há uma combinação com um reposicionamento ortopédico da mandíbula.

A atroplastia resolve os problemas da ATM?

Sim e não.

Sim, nos casos onde uma anquilose impede o paciente de sequer abrir a boca ou há grandes deformações condilares ou mesmo um tumor, que tenha sido removido. Nestes,  uma artroplastia pode sim melhorar a condição.

Não,  porque há uma tendência dos cirurgiões em oferecer esse tipo de tratamento para pacientes com desarranjo interno com  osteoartroses e osteoartrites que, AINDA QUE SEVERAS,  podem ser tratadas com mais segurança por outras técnicas. Nesses casos, os pacientes acabam sendo submetidos a uma artroplastia desnecessária e depois terá de conviver com as sequelas e com uma grande chance de continuar com dores e disfunção. Em minha experiência particular, tem se tornado frequente a chegada de pacientes aqui no consultório que passaram por uma artroplastia e estão muito piores que antes.

“Dr. Marcelo, eu tenho disfunção da ATM e já usei placa, remédios, fiz fisioterapia  e todo tipo de tratamento conservador, mas não tive resultado. A artroplastia poderia ser uma solução para mim?”

Essa é uma pergunta das mais frequentes e minha resposta é a seguinte:  se a indicação for anquilose, tumores, fraturas graves e grandes deformidades articulares, a artroplastia (junto com outra técnica cirúrgica que se faça necessária) pode ser bastante útil. Se essas indicações não se aplicarem ao caso, mesmo que  todos esses tratamentos conservadores tenham falhado, a artroplastia não deverá ser indicada, pois as chances de falhar são basicamente as mesmas, já as de deixar sequelas são bem maiores.

Se ocorrer todas essas falhas com os tratamentos conservadores, o melhor e mais correto  é reavaliar o diagnóstico, pois em situações assim, normalmente há algo que passou despercebido e que, se for encontrado, pode mudar o curso do tratamento.  Outras vezes, a situação é complicada e limítrofe em relação aos conhecimentos científicos disponíveis atualmente e é preciso ter muito cuidado para não se complicar ainda mais com uma artroplastia.

Qual a alternativa se a artroplastia não for uma boa opção?

A principal delas é fazer uma abordagem de restabelecimento  neurofisiológica em termos de patologia da ATM. Isso implica descobrir o motivo pelo qual as lesões estão ocorrendo, rastrear as causas e as formas de controle da doença  e estabelecer uma terapêutica de reversão das lesões (quando possível) ou de controle, mas que descomprima a ATM e otimize suas funções. Com esse tipo de abordagem, eu não tenho tido a necessidade de indicar pacientes para artroplastia, mesmo pacientes com osteoartroses e osteoartrites severas, com processo degenerativo  avançado e “sem outra opção de tratamento”. Não, que não possa vir a acontecer, pode, mas em dez anos de clínica ainda não necessitei encaminhar para esse tipo de cirurgia.

Um exemplo é o caso clínico de regeneração de côndilo que apresentei em um congresso no Chile em 2008, que pode ser visto aqui: Regeneração condilar em um caso de osteoartrose severa (no texto há o link para o painel com o resumo do caso).

Assim, tenha muito cuidado antes de se submeter a uma cirurgia, pois pode ser um caminho sem volta. Aos que se interessam, deem uma olhada na postagem sobre a jornada de Abby, uma americana que já passou por muitas cirurgias e resolveu colocar a história dela em um blog. Tem também a Marilac que postou uma história impressionante aqui no blog, também o próprio FDA americano (que é mais ou menos como nossa ANVISA) emitindo um parecer por conta da quantidade de problemas com prótese de ATM… Enfim, infelizmente essa é uma realidade.